domingo, 16 de março de 2008

Revolução

Havia uma caixa preta em um lugar longe de tudo. Sem que ninguém visse, a caixa começou a tremer, e de dentro dela, ele saiu. Sim. A caixa havia gerado uma pessoa. Ele não nasceu do ventre de uma mãe, tampouco nasceu pequeno e indefeso. Ele já sabia falar, se comunicava muito bem. Embora não tivesse pais, aquilo para ele tinha uma vantagem: ele não havia recebido desde pequeno a noção do que era certo e errado, do que era bom ou ruim, de como ele tinha que se portar para ser aceito. Então ele não se importava com essas coisas. E saiu.
Sempre despertava admiração e inveja nas pessoas com quem convivia. Ele não queria saber mesmo o que pensavam dele, e vivia muito bem assim. Beijava e abraçava quem tinha vontade, constrangia os outros com suas perguntas espontaneamente indelicadas, amava com intensidade. Ele era plenamente feliz. Muitos não entendiam como, mas ele sempre estava incluído e realizado. Na verdade não havia mesmo uma explicação aparente.
Ele conheceu alguém com quem se envolveu. Ele se apaixonou. Mas nem sempre estavam juntos. E ele escolheu manter-se assim. Feliz por estar apaixonado, mesmo que não houvesse presença física. Ninguém entendia, aliás, o que para ele já não era novidade. Continuava aproveitando sua vida, com seus amigos, que ele sempre percebia ter pequenas travas que ele não compreendia o porquê, e fazendo esforços intencionais para ver seu complemento emocional.
Formou-se. Graduou-se no Ensino Superior, como manda a etiqueta, mas não porque ela manda. Ele realmente não era muito apegado às pessoas, embora amasse seus amigos. Talvez fosse porque ele não tinha aprendido que as pessoas sempre esperam retribuição e cobram atitudes. Aí estava algo com que ele não sabia lidar, mas também lixava-se para isso. Ele nunca teve intenção de ser perfeito.
Viajou. Ele tinha os lugares para onde gostaria de ir, e, com sua mochila nas costas, foi para um deles. A presença e companhia de alguém especial finalmente pareciam mais próximas da realidade. E eles finalmente se encontraram. Foi o momento mais belo.
A química era perfeita, duas pessoas que se gostavam simultaneamente. Se formos pensar, a tal da alma gêmea não é muito fácil de encontrar. Pense em quantas pessoas vivem no planeta, todas elas com características únicas, e provavelmente apenas uma delas compartilharia com você o yin-yang do equilíbrio perfeito. E ele acreditava ter encontrado essa pessoa. Viveram intensamente os melhores momentos da vida dos dois, e decidiram ter um herdeiro. Adotaram, em consenso, porque através da experiência dos dois perceberam que filhos gerados naturalmente sofriam influências negativas inevitáveis, e talvez fosse mais fácil controlar a situação com uma criança que não receberia de seus pais uma fórmula de como sobreviver em sociedade.
O menino era lindo, e incrivelmente parecido com os pais. E a educação que lhe foi dada foi livre, sem regras, para que seu potencial de felicidade se desenvolvesse por inteiro. O menino cresceu, e começou a se relacionar com as pessoas, que o admiravam por viver a vida simples que ele queria viver. E assim começou a revolução social mais importante da história: aquela que levava a raça humana à felicidade por opção, e que mostrava que regras devem ser quebradas sempre que fizerem alguém infeliz.

2 comentários:

Laila Hallack disse...

Demais! Simplesmenta foda.
Adorei mesmo, sobretudo quando cheguei ao final =)
Consigo enxergar muito das suas indagações e angústias em cada um dos seus textos.
Te adoro...
Beijos

Letícia disse...

Demosntra o que realmente "deveria" ser feito.
Expressa de maneira correta e LIVRE como as coisas naturais "deveriam" fluir.
Liberdade!

Simplesmente magnífico.
Me desperta emoção. ^^

Beeeeeijos.
Poderia eu te linkar? ;)