domingo, 20 de abril de 2008

A Ponte

Ela tinha um compromisso e estava se atrasando. Era muita gente querendo conversar. Muita gente querendo falar coisas que ela não estava afim de ouvir. Será que ninguém entendia? Ela estava com PRESSA! Ela correu, deixando para trás todos os que a queriam manter ali. Ela correu muito, até que chegou numa ponte. Na ponte, ela encontrou alguém. “Dessa vez vou seguir direto”, pensou. Mas ela não conseguiu. Ele era muito atraente. Charmoso e galanteador, ele quis saber para onde ela iria, e ela o cortou.
- Eu vou embora, e já estou atrasada!
- Vai embora? Para onde, menina? Você nem sabe o que quer.
O misterioso homem não deixava de ter razão, mas ela só queria saber de prosseguir. Como não conseguiu atenção, o homem usou de outros meios para falar com a garota. Como que por magia, a ponte despencou. Ela caiu desesperada de encontro às águas daquele rio imenso. Lá embaixo estava ele, sentado calmamente sobre uma pedra esperando que a correnteza a levasse ao encontro dele. E o momento não demorou a acontecer. Ele retirou a menina do rio, e ela, a contragosto, decidiu ouvi-lo, afinal tinha acabado de ser salva por ele.
E ela não se arrependeu. Ele não era como todos os outros que falavam achando que sabiam da vida, que conheciam as pessoas e queriam ajudá-las. Ele gostava de escutar e aprender com as pessoas. O fato é que ela estava cheia de julgamentos e fugia desesperadamente deles. O homem compreendeu. Realmente era enfadonho o modo como as pessoas se colocavam em fórmulas e achavam que todos se encaixavam ali.
Ela era diferente. Não queria saber de tudo, era humilde. Só queria que as pessoas parassem de tentar encaixá-la em uma fórmula que havia sido definida antes de ela nascer. O homem percebeu qual era o destino dela e a deixou prosseguir. A ponte a levaria para um lugar que ela mesma não tinha coragem para encontrar antes, e agora sentia necessidade absoluta de ir. Ela estava atrasada. Atrasada para atravessar a ponte que a levaria para a vida.
E correu. Ao atravessar a ponte, percebeu que não existia atraso. As pessoas do outro lado eram felizes, plenamente. Havia uns senhores que jogavam xadrez, mulheres nuas correndo pela praia enquanto o casal de namorados conversava no quiosque. Também havia pessoas dançando, e muita gente se conhecia, sempre com sorrisos radiantes nos rostos. A ponte a havia levado para a felicidade.
A felicidade não se explica, não se cobra e não está numa fórmula. Cada pessoa é responsável por decidir o momento de ser feliz, e a felicidade é egoísta. Ela é sua, então é uma decisão que você tem que tomar sozinho e sem dar ouvidos a ninguém. Quando você achar a ponte, atravesse-a. Muita gente demora tempo demais para encontrá-la, e alguns sequer a vêem. Quando alguém tentar retardá-lo, não permita. Corra, você também está atrasado, e só vai perceber que isso não é verdade depois que chegar ao seu destino.

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