Ele acordou feliz. Ainda um pouco bêbado da noite anterior, mas feliz. Nem a dor de cabeça e a ressaca o fariam perder seu bom humor. Finalmente tudo estava caminhando bem. Seu sorriso aberto fez com que algumas pessoas o estranhassem. Mas ele definitivamente não estava nem aí. Na noite anterior, todos viram sua felicidade. Ele, que era um garoto contido, resolveu sair. Quando saiu, percebeu que o problema não era a injustiça da vida, como ele tantas vezes profetizou.Foi tudo tão normal que era estranho que até ali a vida tivesse sido tão difícil. Ele bebeu, muito! E se divertiu como nunca, mas não porque estava bêbado, e sim porque precisava de diversão. E criou seu próprio modo. No palco, a melhor amiga cantava... E para ele foi uma surpresa, ela também parecia tão contida no começo, tanto que eles mal se falavam. Agora ele a via no palco e a admirava como nunca. E eles eram tão diferentes no começo.
Já ia tudo bem, ele poderia ir embora satisfeito, quando a menina apareceu. Troca de olhares, troca de nomes, troca de telefones, troca de beijos. Beijos que começaram contidos como todo o resto, mas que depois começaram a ficar incontrolavelmente quentes. A menina se sentiu um pouco constrangida, parecia que não estava acostumada a ser vista naquela situação. Ele na verdade também não estava, mas alguma coisa inexplicável fazia com que quisesse continuar para sempre.
Dali foram embora juntos. Para ela, parecia algo natural eles estarem dormindo abraçados. O bobo, o deslumbrado, era ele. E a menina soube lidar muito bem com aquilo. Com um toque de mistério que o deixava maluco, ela foi a condutora da noite mais perfeita. Não se podia dizer que tinham sido inocentes, mas havia sim um toque de uma ingenuidade erótica. Ele estava encantado.
No dia seguinte, a ressaca. Mas nada o iria afetar. Ele tinha também um grande amigo que não acreditaria naquilo tudo, e ele achou melhor contar. Não que mentisse, mas às vezes nossos melhores amigos nos guardam surpresas. E, na opinião dele, elas ajudavam a amizade a crescer sempre. Como esperado, o amigo ficou feliz por ele. Então, mandou uma mensagem para a menina, que o ignorou. Mas quando tudo vai bem, não há Murphy que atrapalhe. Mais um dia se passou, e ela o telefonou. Ao que parecia, as noites encantadoras só estavam começando.
Seu tio não era como os outros. Apesar da diferença de idade, parecia que suas mentes estavam conectadas de uma forma peculiar aos jovens. Eles saíam juntos, também. E compartilhavam amizades, sentimentos e filosofias. O menino sempre fazia o tio sorrir. E na maioria das vezes os motivos eram banais. O tio gostava do comportamento do sobrinho, era só isso. Descontraído, o menino se comportava como a criança que já não era, mas tinha a malícia dos adultos quando queria parecer forte. O tio exercia no menino uma espécie de fascínio velado. Embora não conseguisse compreender a profundidade de muito do que era dito por ele, o achava sempre muito inteligente, perspicaz e sensato em suas colocações.
A única coisa que ele queria era sentir-se vivo. Ele estava sim desgastado, exausto. Mas estava vivo. Tudo o que ele queria era alguém que compartilhasse com ele suas vontades e fizesse delas as próprias vontades. E eram vontades tão naturais que ele não entendia como algo tão simples podia ser tão complicado.