Seu tio não era como os outros. Apesar da diferença de idade, parecia que suas mentes estavam conectadas de uma forma peculiar aos jovens. Eles saíam juntos, também. E compartilhavam amizades, sentimentos e filosofias. O menino sempre fazia o tio sorrir. E na maioria das vezes os motivos eram banais. O tio gostava do comportamento do sobrinho, era só isso. Descontraído, o menino se comportava como a criança que já não era, mas tinha a malícia dos adultos quando queria parecer forte. O tio exercia no menino uma espécie de fascínio velado. Embora não conseguisse compreender a profundidade de muito do que era dito por ele, o achava sempre muito inteligente, perspicaz e sensato em suas colocações.
- Sabe como é, não é tio? Se você não parecer forte, você não é forte.
O tio sabia bem o que aquilo significava. Os jovens não são fortes, mas querem ser. E é aí que mora a comicidade da juventude. O homem de ferro, conhecedor dos mais diversos assuntos - dos problemas mundiais da ecologia ao comportamento sutil e encantador das mulheres -, era na verdade um garotinho assustado tentando lutar contra os próprios fantasmas e criando uma máscara para não demonstrar suas fraquezas.
- Você não precisa parecer nada que você não é, meu filho.
O menino olhou com certa incredulidade para o tio. Realmente, ele não se achava forte. Mas também não considerava que seu tio fosse um homem forte. E para o menino, sem dúvida, era a imagem que o tio passava a todas as pessoas que conhecia. Seus amigos achavam o tio astuto, com a inteligência de um adulto e o desprendimento necessário para compreender a juventude. O tio convencia a todos, mas a ele não. O menino sabia que ele tinha se afundado tanto em suas teorias brilhantes e sensatas que se esquecera de viver. Como o tempo passou e ele covardemente não conseguiu se entregar às emoções, sobre as quais não podia exercer controle, decidiu viver a juventude fora da época. Era por isso que ele admirava o tio. Pela coragem que ele conseguiu reunir depois de tanto tempo para enfrentar suas emoções. Mas diante daquela fala, ele não se sentia no direito de ser sincero com o tio. Displicente, apenas sorriu.
- Pára com esse papo de tio! Quem te disse que eu não sou forte?
O tio ergueu as sobrancelhas e os dois seguiram o caminho até o bar, onde beberam, ficaram um pouco alterados e filosofaram sobre os mais diversos assuntos com alguma perícia. Nem um nem outro, entretanto, colocou em pauta as emoções. Ambos sabiam que corriam o risco de serem nocauteados. E como todos viam, eles eram inteligentes demais para serem vencidos.
2 comentários:
Nossa, muito legal essa relação "sobrinho - Tio"... Eu não tenho nenhum tio assim, pra falar a verdade na familia isso é dificil de existir comigo, é mais coisa "amigo - amigo (a)" ou amigo - namorada"!
Oi Tio
^^
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