sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Papo de tio

Seu tio não era como os outros. Apesar da diferença de idade, parecia que suas mentes estavam conectadas de uma forma peculiar aos jovens. Eles saíam juntos, também. E compartilhavam amizades, sentimentos e filosofias. O menino sempre fazia o tio sorrir. E na maioria das vezes os motivos eram banais. O tio gostava do comportamento do sobrinho, era só isso. Descontraído, o menino se comportava como a criança que já não era, mas tinha a malícia dos adultos quando queria parecer forte. O tio exercia no menino uma espécie de fascínio velado. Embora não conseguisse compreender a profundidade de muito do que era dito por ele, o achava sempre muito inteligente, perspicaz e sensato em suas colocações.
- Sabe como é, não é tio? Se você não parecer forte, você não é forte.
O tio sabia bem o que aquilo significava. Os jovens não são fortes, mas querem ser. E é aí que mora a comicidade da juventude. O homem de ferro, conhecedor dos mais diversos assuntos - dos problemas mundiais da ecologia ao comportamento sutil e encantador das mulheres -, era na verdade um garotinho assustado tentando lutar contra os próprios fantasmas e criando uma máscara para não demonstrar suas fraquezas.
- Você não precisa parecer nada que você não é, meu filho.
O menino olhou com certa incredulidade para o tio. Realmente, ele não se achava forte. Mas também não considerava que seu tio fosse um homem forte. E para o menino, sem dúvida, era a imagem que o tio passava a todas as pessoas que conhecia. Seus amigos achavam o tio astuto, com a inteligência de um adulto e o desprendimento necessário para compreender a juventude. O tio convencia a todos, mas a ele não. O menino sabia que ele tinha se afundado tanto em suas teorias brilhantes e sensatas que se esquecera de viver. Como o tempo passou e ele covardemente não conseguiu se entregar às emoções, sobre as quais não podia exercer controle, decidiu viver a juventude fora da época. Era por isso que ele admirava o tio. Pela coragem que ele conseguiu reunir depois de tanto tempo para enfrentar suas emoções. Mas diante daquela fala, ele não se sentia no direito de ser sincero com o tio. Displicente, apenas sorriu.
- Pára com esse papo de tio! Quem te disse que eu não sou forte?
O tio ergueu as sobrancelhas e os dois seguiram o caminho até o bar, onde beberam, ficaram um pouco alterados e filosofaram sobre os mais diversos assuntos com alguma perícia. Nem um nem outro, entretanto, colocou em pauta as emoções. Ambos sabiam que corriam o risco de serem nocauteados. E como todos viam, eles eram inteligentes demais para serem vencidos.

2 comentários:

@diegohag disse...

Nossa, muito legal essa relação "sobrinho - Tio"... Eu não tenho nenhum tio assim, pra falar a verdade na familia isso é dificil de existir comigo, é mais coisa "amigo - amigo (a)" ou amigo - namorada"!

Anônimo disse...

Oi Tio
^^